(Este post é bem velho, publicado no meu primeiro blog, uns 3 anos atrás)
Se tem uma coisa que eu tenho pânico, é de dentista. PÂNICO. Faço de tudo para fugir da Manuela, minha dentista. Claro que, tendo consciência disto, ela não mede esforços para me encontrar de seis em seis meses e coloca a sua secretária para me perseguir.
Semana passada, fui mais uma vez para a cadeira de tortura, que por sinal mudou de endereço e agora fica num consultório muito mais bonitinho com direito a música ambiente, com o rádio sempre sintonizado na mesma estação.
Ao abrir a boca, o que sinto é apenas pânico. Não me lembro de problemas mundanos e nem presto atenção ao dia ensolarado que acontece lá fora. Ouço sons dos passantes pela janela e fico com inveja da tranquilidade deles, sinto raiva dos risinhos que a secretária emite na sala ao lado. Penso que ela é uma insensível.
Estou lá deitada na cadeira, suando frio e verificando o relógio de parede a cada segundo (como uma maneira de passar o tempo que, obviamente, não funciona, e também como forma de ignorar a luz ligada nos meus olhos), completamente vulnerável, com todos os músculos do meu corpo tensionados e desejando retornar ao útero materno (já que a minha posição na cadeira é quase fetal) eis que, de repente, a Manuela, em meio a este turbilhão de emoções, começa a cantar. Animadamente.
E o pior: ela sabe cantar todas as músicas. E tocam muitas, de estilos diferentes. Quando ela começa a entoar uma "Dancing Queen", do Abba, tenho um momento de iluminação, um tipo de resposta divina. Interrompo o trabalho - obviamente emitindo um grunhido já que minha boca estava escancarada com duas mãos dentro dela, mais um aparelho de sugar a saliva e o acessório de limpeza - para compartilhar a minha mais recente conclusão com a minha carrasca:
- O que foi, Gabi? Isto não está doendo.
Ela fala com a autoridade de quem está quase no meu lugar.
- Manuela, você já viu Laranja Mecânica?
- Já, porque?
- Você é o meu Alex.
É isso. Todos os dentistas tem um Alex dentro de si.