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  1. Odontologistas

    Tuesday, February 27, 2007

    (Este post é bem velho, publicado no meu primeiro blog, uns 3 anos atrás)

    Se tem uma coisa que eu tenho pânico, é de dentista. PÂNICO. Faço de tudo para fugir da Manuela, minha dentista. Claro que, tendo consciência disto, ela não mede esforços para me encontrar de seis em seis meses e coloca a sua secretária para me perseguir.

    Semana passada, fui mais uma vez para a cadeira de tortura, que por sinal mudou de endereço e agora fica num consultório muito mais bonitinho com direito a música ambiente, com o rádio sempre sintonizado na mesma estação. O suplício começa. Vejo luzes e terríveis aparelhos espalhados pela sala. Na minha cabeça, aqueles aparatos todos só servem para aumentar a minha ansiedade, já que eu nunca vejo a Manuela usar nem a metade deles.

    Ao abrir a boca, o que sinto é apenas pânico. Não me lembro de problemas mundanos e nem presto atenção ao dia ensolarado que acontece lá fora. Ouço sons dos passantes pela janela e fico com inveja da tranquilidade deles, sinto raiva dos risinhos que a secretária emite na sala ao lado. Penso que ela é uma insensível.

    Estou lá deitada na cadeira, suando frio e verificando o relógio de parede a cada segundo (como uma maneira de passar o tempo que, obviamente, não funciona, e também como forma de ignorar a luz ligada nos meus olhos), completamente vulnerável, com todos os músculos do meu corpo tensionados e desejando retornar ao útero materno (já que a minha posição na cadeira é quase fetal) eis que, de repente, a Manuela, em meio a este turbilhão de emoções, começa a cantar. Animadamente. Como se estivesse no chuveiro de sua casa tomando um banho relaxante e agradável.

    Como se estivesse se entretendo.

    E o pior: ela sabe cantar todas as músicas. E tocam muitas, de estilos diferentes. Quando ela começa a entoar uma "Dancing Queen", do Abba, tenho um momento de iluminação, um tipo de resposta divina. Interrompo o trabalho - obviamente emitindo um grunhido já que minha boca estava escancarada com duas mãos dentro dela, mais um aparelho de sugar a saliva e o acessório de limpeza - para compartilhar a minha mais recente conclusão com a minha carrasca:

    - O que foi, Gabi? Isto não está doendo.

    Ela fala com a autoridade de quem está quase no meu lugar.

    - Manuela, você já viu Laranja Mecânica?

    - Já, porque?

    - Você é o meu Alex.

    É isso. Todos os dentistas tem um Alex dentro de si.


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