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  1. Air Quote

    Sunday, January 14, 2007

    Eu escrevi um pé de página sobre as air quotes num manifesto que eu publiquei no Alto-Falante que, na verdade, me pareceu fazer o texto todo menos interessante, meio apagadinho. Quando coloquei o texto no site, eu estava me achando muito polêmica, imaginando que ia receber críticas negativas, gente mandando emails raivosos, DJs querendo a minha morte e coisa e tal. Ledo engano. Os comentários que recebi foram todos positivos, só de amigos, e todos, sem exceção, só faziam menção às aspas no ar.

    Pois bem, já que elas fizeram tanto sucesso, decidi fazer alguns esclarecimentos sobre o meu ódio às pessoas que são adeptas a esse tipo de prática e porque um pedaço do meu estômago parece morrer todas as vezes que presencio o gesto.

    Como eu disse no tal pé de página, o air quote é da mesma família do air guitar e, embora seja o ancião da casta, é o mais incômodo de todos. E o motivo desse ódio é muito simples. O mundo se divide entre pessoas que optam pelo air guitar e pessoas que optam pelo air quote.

    O cara que faz air guitar é um sonhador. Um idealista que acredita na liberdade pela música. É uma pessoa que tem ambições na vida e, mais importante que isso, tem imaginação. Mesmo que essas ambições consistam em tocar um instrumento e montar mais uma banda de música ruim. Mesmo assim, ele está perdoado. Simplesmente porque ele sonha.

    Ele é o cara que consegue ouvir os acordes da sua guitarra imaginária. Ele é o cara que, enquanto toca o instrumento invisível, se sente o novo Jimi Hendrix. Ele se coloca em cima de um palco, vivencia os prazeres de ser um rock star, usa drogas, escreve letras revoltadas, quer mudar o mundo e come grupies. E ainda que tudo isso só aconteça na sua cabeça e ele eventualmente acabe se transformando em um assistente de contabilidade, ainda assim, ele tem perdão.

    O indivíduo que utiliza as air quotes é aquele assistente de contabilidade que, mesmo tendo desejado tocar guitarra um dia, nunca foi capaz de esboçar um air guitar porque lhe faltou coragem. Porque não teve a capacidade de se expor ao ridículo. A ele falta tanta capacidade de imaginar que, até mesmo quando fala alguma coisa metaforicamente, precisa ilustrar (como se estivesse desenhando para o interlocutor e, consequentemente, rebaixando-o ao seu nível de precariedade intelectual) o sentido figurativo do que está expressando.

    Ele desafia a inteligência alheia. Empobrece o sarcasmo. Tira a força da ironia.

    E este tipo de gente não tem perdão.

  2. Eu nunca posto fotos aqui no blog, mas decidi abrir uma exceção porque simplesmente me faltam palavras para descrever a minha festa de ano novo.